“Terrorismo estocástico” é o uso de meios de comunicação em massa para demonizar grupos ou indivíduos, resultando na incitação de atos violentos de maneira estatisticamente previsível, mas individualmente imprevisível. A ideia é que seria possível a um agente mal-intencionado usar a Internet e outros meios de comunicação em massa para incitar perpetradores aleatórios, desconhecidos do agente, a cometer atos de violência. Como a relação de causa-e-efeito não é certa, diz-se que há previsibilidade estatística de que o ato de terrorismo irá ocorrer, mas é impossível prever individualmente quem será o perpetrador ou quando o ato irá ocorrer. O incitador pode então limpar as mãos.
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Mas aí que está: o terrorismo estocástico não é possível se não há um receptor que possa entender a mensagem como um gatilho para a violência. De fato, nos parece que o que caracteriza o bolsonarismo como fascista não é tanto a institucionalização de valores típicos do fascismo – como o populismo seletivo, a rejeição dos valores modernos, e o culto da ação pela ação -, mas essa micropolítica que permitiu que o fascismo subisse ao poder pela via do voto, esse “fascismo transversal” dos “homens de bem” que reproduzem as práticas sociais do poder fascista. Essa micropolítica que permeia nossas relações sociais na forma de violência, e que foi se instalando de forma imperceptível, navegando nas águas do sentimento comum, da moral e dos bons costumes, com baixa intensidade até escorrer como sedimento e abonar um pensamento passado a ato. Os bolsonaristas e sua libidinização da violência são só uma face desse fascismo, que inclui o conservadorismo das famílias e dos homofóbicos, as igrejas e seus conceitos de pecado e moral reduzidos à sexualidade dominante, os meios de comunicação e sua forma de tratar a diferença como exotismo – enfim, a cultura em todas as suas instituições hegemônicas.
É nesse caldo grosso das instituições do imaginário que o terrorismo estocástico é possível. É um pântano fértil de ressentimentos que permitirá, de maneira quase imperceptível, a institucionalização final do fascismo que Bolsonaro quer.