[Dezembro Negro] Luiz Carlos Ruas presente!

O texto abaixo, da campanha do Dezembro Negro, foi publicado por anarquistas anônimos, em inglês, no site 325. O que segue é uma tradução livre.

Luiz Carlos Ruas presente, a única morte é o esquecimento

Luiz Carlos Ruas, também conhecido como Índio, foi assassinado por neonazistas depois de defender duas pessoas trans de agressão em uma estação de metrô em São Paulo. Ele morreu defendendo a liberdade enquanto seguranças do metrô e cidadãos eram coniventes com a agressão. Ele sempre será lembrado na ofensiva contra toda a passividade e autoridade!

O que você perguntou? “Quem matou ele?” Mas se os nomes e faces dos assassinos já são até conhecidos… Não demorou muito tempo para que a imprensa marrom transformasse o evento em um espetáculo. Houve uma exposição não só daqueles que o agrediram até seu último suspiro, mas também de sua família, das pessoas trans que ele defenfeu, da sua história, e de várias informações que foram divulgadas só para criar uma enorme cortina de fumaça. Depois dessa situação nojenta, dois anos após sua morte, é indispensável contar essa história dos assassinatos sob as garras do poder.

Em uma nada pacífica noite de Natal, dois neonazistas perseguitam transexuais na estação Pedro II do metrô (assim chamada em homenagem ao último rei colonialista do Brasil) com o objetivo de fazer a elas exatamente o que fizeram com Índio. Isso só demonstra a caçada persistente contra aqueles que libertam seus desejos e vontades, e fazem resistência contra uma normalidade imposta. Entretanto, em uma negação convicta da passividade, um ambulante de 55 anos devidiu defendê-las. Essa atitude custou sua vida.

A presença dos guardas do metrô e de “cidadãos de bem” não ajudou em nada, e não poderia ter sido diferente. Todos os dias, as estações de metrô são preenchidas por autômatos cegados pela rotina, cumprindo ordens superiores. Luiz Carlos Ruas, um trabalhador autônomo negro que vendiasuas coisas fora da estação, contra o desânimo usual das cidades, em seu último dia – e provavelmente nos seus muitos dias anteriores – instintivamente seguiu a busca pela liberdade.

Um ato verdadeiramente insurgente de solidariedade e ação direta no meio de uma sociedade cada vez mais domesticada, que fecha seus olhos para a guerra travada aqui e agora. Uma guerra contraditória, travada pelos agentes que, junto com seus agressores, causou a morte de mais um homem negro, sem qualquer questionamento sobre a suposta aitotia. Essas são estruturas programadas para matar e deixar morrer.

O comportamento dos seguranças não surpreende ninguém. Inúmeros casos são omitidos, dia-a-dia, de assédio sexual contra mulheres, de agressões a pessoas trabalhando nos trens, de espancamentos de pessoas que não são bem-vindas nesse ambiente e nesse meio de transporte que, apesar de ser acessível a poucos, danifica a todos pela existênciadessa tecnologia civilizatória que ataca a vida e a natureza. Nas veias da cidade corre o sangue derramado pelas autoridades, e é só assim que elas mantém essa arquitetura do assassinato.

Assim como Alexis Grigoropoulos, assassinado pela polícia nos guetos de Atenas em 2008, como Sebastian Oversluij, assassinado por um segurança de banco após uma tentativa de assalto em 2013, junto com tantos outros que ousaram buscar a liberdade e portanto morreram sem terem seus nomes lembrados, Luiz Carlos Ruas, conhecido como Índio, é mais um que está em mais do que vivo em cada ato de não-conformismo e rebelião. Os autoritários e a passividade mataram Índio.

A ÚNICA MORTE É O ESQUECIMENTO!

LUIZ CARLOS RUAS PRESENTE!

POR UM DEZEMBRO NEGRO!