“Um poder de tipo soberania é substituído por um poder que poderíamos dizer de disciplina, e cujo efeito não é em absoluto consagrar o poder de alguém, concentrar o poder num indivíduo visível e nomeado, mas produzir efeito apenas em seu alvo, no corpo e na pessoa do rei descoroado, que deve ser tornado ‘dócil e submisso’ por esse novo poder” -Foucault
“Porque passei pela prisão, eu compreendo as pessoas e os animais que estão doentes, pobres, que sofrem. Eu me identifico com eles. Sinto-me um deles.” -Nise da Silveira
A luta contra os manicômios, em sua radicalidade, se baseia na ideia de que a psiquiatria e outras profissões médicas da saúde mental são, em última instância, um sistema de controle social escondido atrás deo que seria, na melhor das hipóteses, chamado de pseudociência. Os protestos contra os sistemas de saúde mental datam pelo menos desde o século XVII, quando internos do hospital de Bethlem pediram à Câmara dos Lordes que intervisse por um tratamento mais humano. A luta antimanicomial se distingue dessa tradição devido ao seu radicalismo: ao invés de buscar modernizar a psiquiatria, diminuir seu poder, ou prevenir o abuso, o trabalho dos militantes coloca em cheque toda a hierarquia do poder psiquiátrico, inserindo-a em uma lógica anti-autoritária mais geral. No Brasil, a luta antimanicomial se institucionalizou com a política de saúde mental, álcool e outras drogas; o problema dessa institucionalização é que corre o risco de perder a radicalidade anti-autoritária, ficando vulnerável a alterações de política com a proposta pelo governo Bolsonaro.
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